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O que o motociclismo tem a ver com a organização das empresas?

Texto escrito por Luís Felício - Diretor Executivo da Galeazzi & Associados

 

Mudando de tema, mas não muito. Meu hobby é fazer viagens longas de moto com os meus amigos pela América Latina, USA, etc. Estávamos planejando a próxima quando acendeu uma luz: afinal, até para uma viagem de 20 ou mais dias a organização inclui os mesmos ingredientes necessários para a gestão de uma empresa. Ou seja: ter metas, orçamento, controle de execução, análises de risco, gerenciar pessoas (o grupo), e por aí vai.

Nas viagens longas de moto, encontramos dois grupos distintos de viajantes: os que são RAIZ, não planejam nada, sobem na moto e "seja o que Deus quiser", o que não é o nosso caso; e os que dedicam um tempo razoável ao planejamento para garantir o sucesso do projeto, que é o nosso caso.

Perrengues

São inevitáveis, do mesmo modo que problemas acontecem numa empresa. Ou seja, ao gerenciar uma empresa aprendemos fundamentos que se aplicam a todos os momentos de nossas vidas.

Vou citar perrengues que já enfrentamos, alguns resolvidos devido ao “planejamento”, outros com falha na execução.

a) Ao sair do Brasil por Foz, um dos companheiros levou RG e Passaporte vencidos. O funcionário da Argentina até deixou entrar só com a CNH, e disse para ficar até 5 dias pela região, o que não fizemos. Ao chegar à fronteira com o Chile, a aduana não o deixou entrar e teve que voltar sozinho para o Brasil. Falha na execução e controle.

b) Numa outra viagem fomos até o Ushuaia. Ao chegar lá, duas motos estavam com o pneu em péssimo estado. E agora? Perdemos um dia tentando achar pneu, até que um dos colegas comprou um usado num borracheiro e resolveu o problema. Outro colega quis voltar assim mesmo e, na volta, ao chegar em Rio Gallegos, na Argentina, os fios de aço do pneu anunciaram o seu fim. Para nossa sorte, em um posto de gasolina, um motociclista argentino acionou o seu grupo de whatsapp, arrumaram um pneu usado e não aceitaram receber nada. A família motociclista ajuda-se muito nessas viagens. Ou seja, era sabido que aquele tipo de pneu não ia aguentar uns 13.000 km. Botou-se fé de que no Ushuaia se encontraria tudo. Mau planejamento!

c) Numa outra viagem, na Argentina, entre Gobernador Gregores e El Calafate (recomendo visitar esta pequena cidade com glaciares), no pior piso que já encontramos, um dos colegas caiu, quebrou o tornozelo e a frente da moto despencou, bolha, farol etc. Fomos salvos pelos acessórios que levamos, já que de algum modo se colocou tudo no lugar (?) e deu para chegar a El Calafate. A moto veio de caminhão para o Brasil. Um parênteses, fomos muito bem atendidos pelo sistema de saúde da Argentina. Bom planejamento, levamos equipamentos para solucionar esse tipo de problema da moto. O colega veio de avião.

E tem mais, mas paremos por aqui. Planejar, prever problemas, ter um plano B, é fundamental... igual a uma empresa bem gerida.

 

Qual o paralelo com uma empresa? Vejamos.

a) Pessoas / o RH: Somos um grupo de 6 a 10 pilotos por viagem. Somos diferentes, temos formações diferentes, temos amigos diferentes, escolaridades diferentes, rendas diferentes, idades bem diferentes. Ou seja, como numa empresa, somos formados por pessoas diferentes, com um ponto que nos une, o amor às viagens de motos, querer conhecer lugares diferentes, curtir a natureza, experiências gastronômicas, conhecer outras culturas e, como todo motociclista diz, gostamos do vento no peito.

Como em todo RH, temos que planejar as férias de cada um e escolher a melhor data, considerando frio, chuva, neve, calor etc., no período escolhido. Nem todos que gostariam de ir, nosso grupo tem umas 18 pessoas, consegue viajar pela dificuldade de conciliar as férias, emprego, família (viajamos solo) e orçamento (o caixa).

Ainda dentro deste tema, o RH, alguém tem que ver a documentação necessária, haja visto que cada país pode ter exigências diferentes, como seguro contra terceiros, seguro saúde, documentos pessoais, documento impresso da moto e CNH (não adianta mostrar no celular), a lista é longa.

b) Objetivos I: Como numa empresa, precisamos definir o objetivo (destino), o COMO, por onde vamos, onde tem postos de gasolina (isto é problemático), o que tem para ver de interessante pelo caminho, que tipos de hospedagem há nesses lugares, quantos dias precisamos em cada etapa. Quando isto não está claro, existe o risco do grupo se dissolver no meio do caminho, por incompatibilidade entre o grupo, porque um quer visitar um lugar, outros não. Isto é crítico, tem que definir antes (o contrato entre os sócios da empresa). Já vimos bastantes grupos se dissolverem no meio da viagem. Numa empresa não é assim também?

c) Objetivos II: Quanto vai custar a viagem (investimento)? Como temos pessoas diferentes com salários diferentes, estas questões têm que ser equacionadas antes. Este também é um problema, já que a falta de alinhamento pode dissolver o grupo (a empresa). Para nós, isso já está pacificado, hoje, porque já definimos quanto queremos gastar de hospedagem por dia, o tipo de hotel é uma resultante. Ficar dois, três ou quatro num quarto não é incomum, até porque em algumas localidades não existe outra opção. Isto são contingências com que a “nossa empresa” tem que lidar.

d) Planejamento I: Como as nossas motos não são todas iguais, temos que considerar várias questões como que ferramentas levar? Um fato interessante, na primeira viagem todos levaram um monte de ferramenta para passear e acredito que metade delas nem sabíamos como usar. Hoje sabemos que compressor portátil, kit reparo de pneu, enforca gato (pesquisem para saber o que é isso), silver tape, etc, são fundamentais. Esta aula já aprendemos. Nossa “empresa” está aprendendo com os erros!

e) Planejamento II: Nossa “empresa” precisa definir os recursos necessários! O que levar para uso pessoal? Na primeira viagem, levamos roupa em excesso, o que só serviu para carregar peso. A mala era gigante e as roupas não eram as mais adequadas para o clima. Roupas de algodão, malhas de lã, jaquetas pesadas. Fizemos pouca pesquisa sobre o assunto. Hoje levamos camisetas Dry Fit (polyamida) que não pega cheiro, dá para lavar todos os dias durante o banho, seca rápido, ou seja, precisamos de menos peças e peso. Levamos jaquetas de material de Fleece, mais leves e esquentam mais. Resumo, planejamos mal, não pesquisamos e gastamos mais do que esperado. Hoje nossa bagagem é minimalista. Ainda nesta fase, precisamos definir quanto vamos levar em moeda local ou em USD.

f) Longevidade de “nossa empresa”: Estamos viajando juntos desde 2011. Isto se deve a vários fatores: mesmo propósito (missão, visão), mesmos objetivos, alinhamento constante entre os “sócios”, muita negociação, somos fortes em planejamento e controle da execução (PDCA) e controle dos gastos (fluxo de caixa). Nem todos os candidatos a “sócios” foram aceites pelo grupo, já que não havia alinhamento.

Em tempo, infelizmente muitas empresas não aprendem com os erros, não reagem às mudanças do ambiente, não seguem o orçamento (quando têm), não gerenciam o caixa e não têm um plano de ação (coisa difícil de achar). Talvez os executivos devessem andar de moto e aplicar o aprendizado nas empresas? Que tal?

Vamos andar de moto.

 

 
 
 
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